Guimarães
Rosa (1908-1967)
DADOS BIOGRÁFICOS
João Guimarães Rosa nasceu
em Codisburgo (MG) e morreu no Rio de Janeiro em 1967. Filho de um comerciante
do centro-norte de Minas, fez os primeiros estudos na cidade natal, vindo a
cursar Medicina em Belo Horizonte. Formado Médico, trabalhou em várias cidades
do interior de Minas Gerais, onde tomou contato com o povo e o cenário da
região, tão presentes em suas obras. Autodidata, aprendeu alemão e russo, e
tornou-se diplomata, trabalhando em vários países. Veio a ser Ministro no
Brasil no ano de 1958, e chefe do Serviço de Demarcação de Fronteiras, tratando
de dois casos muito críticos de nosso território: o do Pico da Neblina e das
Sete Quedas. Seu reconhecimento literário veio mesmo na década de 50, quando da
publicação de Grande Sertão: Veredas e Corpo de Baile, ambos de 1956. Eleito
para ocupar cadeira na Academia Brasileira de Letras no ano de 1963, adiou sua
posse por longos anos. Tomando posse no ano de 1967, morreu três dias depois,
vítima de um enfarte.
CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
Guimarães Rosa é figura de
destaque dentro do Modernismo. Isso se deve ao fato de ter criado toda uma
individualidade quanto ao modo de escrever e criar palavras, transformando e
renovando radicalmente o uso da língua [ver Antologia].
Em suas obras, estão
presentes os termos coloquiais típicos do sertão, aliados ao emprego de
palavras que já estão praticamente em desuso. Há também a constante criação de
neologismos nascidos a partir de formas típicas da língua portuguesa, denotando
o uso constante de onomatopéias e aliterações. O resultado disso tudo é a
beleza de palavras como "refrio", "retrovão",
"levantante", "desfalar", etc., ou frases brilhantes como:
"os passarinhos que bem-me-viam", "e aí se deu o que se deu – o
isto é".
A linguagem toda
caracterizada de Guimarães Rosa reencontra e reconstrói o cenário mítico do
sertão tão marginalizado, onde a economia agrária já em declínio e a
rusticidade ainda predominam. Os costumes sertanejos e a paisagem, enfocada sob
todos os seus aspectos, são mostrados como uma unidade, cheia de mistérios e
revelações em torno da vida. A imagem do sertão é, na verdade, a imagem do
mundo, como se prega em Grande Sertão: Veredas. O sertanejo não é simplesmente
o ser humano rústico que povoa essa grande região do Brasil. Seu conceito é
ampliado: ele é o próprio ser humano, que convive com problemas de ordem universal
e eterna. Problemas que qualquer homem, em qualquer região, enfrentaria. É o
eterno conflito entre o ser humano e o destino que o espera, a luta sem tréguas
entre o bem e o mal dentro de cada um, Deus e o diabo, a morte que nos
despedaça, e o amor que nos reconstrói, num clima muitas vezes mítico, mágico e
obscuro, porém muitas vezes contrastando com a rusticidade da realidade. Seus
contos seguem também, de certa forma, a mesma linha desenvolvida dentro de seu
único romance.
PRINCIPAIS OBRAS
Romances
Grande Sertão: Veredas
(1956).
Contos
Sagarana (1946); Corpo de
Baile (1956); Primeiras Estórias (1962); Tutaméia – Terceiras Estórias (1967);
Estas Estórias (1969); Ave, Palavra (1970).
GRANDE
SERTÃO: VEREDAS
Guimarães
Rosa
Riobaldo, fazendeiro do
estado de Minas Gerais, conta sua vida de jagunço a um ouvinte não
identificado. Trata-se de um monólogo onde a fala do outro interlocutor é
apenas sugerida. São histórias de disputas, vinganças, longas viagens, amores e
mortes vistas e vividas pelo ex-jagunço nos vários anos que este andou por
Minas, Goiás e sul da Bahia. Toda a narração é intercalada por vários momentos
de reflexão sobre as coisas e os acontecimentos do sertão. O assunto parece
sempre girar na existência ou inexistência do diabo, já que Riobaldo parece Ter
vendido sua alma numa certa ocasião...
Riobaldo era um dos jagunços
que percorriam o sertão abrindo o caminho à bala. Entre seus companheiros,
havia um que muito lhe agradava: Reinaldo, ou Diadorim. Conhecera-o quando
menino e mantinha com ele uma relação que muitas vezes passava de uma simples
amizade. O jagunço, que admirava e cultivava um terno laço com Diadorim,
perturbava-se com toda aquela relação, mas a alimentava com uma pureza que ia
contra toda a rudeza do sertão, beirando inclusive o amor e os ciúmes.
Nas longas tramas e
aventuras dos jagunços, Riobaldo conhece um dos seus heróis: o chefe Joca
Ramiro, verdadeiro mito entre aqueles homens, que logo começa a mostrar certa
confiança por ele. Isso dura pouco tempo, já que Riobaldo logo perde seu líder:
Joca Ramiro acabou sendo traído e assassinado por um dos seus companheiros
chamado Hermógenes. Riobaldo jura vingança e persegue Hermógenes e seus homens
por toda aquela árida região. Como o medo da morte e uma curiosidade sobre a
existência ou não do diabo toma cada vez mais conta da alma de Riobaldo,
evidencia-se um pacto entre o jagunço e o príncipe das trevas, apesar de não
explícito.
Acontecido ou não o tal
pacto, o fato é que Riobaldo começa a mudar à medida que o combate final contra
Hermógenes se aproxima. E a crescente raiva do jagunço só é contida por uma
relação mais estreita com Diadorim, que já mostra marcas de amor completo.
Segue-se, então, o encontro
com Hermógenes e seus homens, e a vingança é enfim saboreada por Riobaldo.
Vingança, aliás, que se tornou amarga: Hermógenes mata, durante o combate, o
grande amigo Diadorim...
A obra reserva, nas últimas
páginas, uma surpreendente revelação: na hora de lavar o corpo de Diadorim, Riobaldo
percebe que o velho amigo de aventuras que sempre lhe cativou de uma forma
especial era, na verdade, uma mulher.
Nenhum comentário:
Postar um comentário