segunda-feira, 11 de março de 2013



Análise Semiótica de um Banco de Dados

por Augusto Gonçalves Ribeiro


1.     Considerações Iniciais



Have you ever ...

                      
Augusto Gonçalves Ribeiro

  seen a horse riding freely and elegantly
observed a rose blooming silently and glamorously
felt its perfume and understood its reason
seen a drop of water falling from a leaf
smelt the grass so lively and so wet
observed a group of birds flying so harmoniously
and sometimes singing so peacefully
tried to understand the animal’s organization system
fed the cows, ducks, hens, and others in a farm
admired the love of  your precious pet
looked at the Sun and admired its Light, Power and Life
observed the tune of the waves in the ocean
paid attention to the clouds above your head
breathed the early morning breeze
felt the wind moving your hair, touching your body.

When I am down and seriously hurt
Of course, I cry emotionally hard
But I try to disguise.
First, I smile to give myself strength again
Secondly, I try to feel comfort
At last, I join the broken pieces again
                                   and follow my destiny without hurry.


Ao iniciar este trabalho com o poema acima pretendo justamente fazer pequenas apreensões de um todo muito vasto nesta análise semiótica. No texto acima, a maior preocupação são com os detalhes da vida que ora esquecemos que somos humanos e nos desprendemos do mundo que nos cerca cheio de vida, alegria e felicidade.
Bakhtin (apud Stam,2000:17) diz que  “posso ver o que você não pode ver e você vê o que eu não posso ver”. Aqui notamos a relação entre ângulos de visões diferentes que os leitores podem apresentar durante sua leitura e principalmente sua releitura de um determinado texto, e por outro lado, a leitura e releitura dos autores deste mesmo texto apresentar-se-ão diferentes. Segundo Stam (2000:17), “essa necessária e produtiva complementaridade de visões, compreensões e sensibilidades, forma o cerne da noção bakhtiniana de diálogo”, onde a relação entre o eu e o outro se apresenta dentro de uma visão social e ideológica do homem em seu contexto histórico e cultural.
Os detalhes serão apreendidos de forma diferente por cada leitor, pois  cada um com sua experiência de vida, seu conhecimento de mundo e suas competências comunicativas representarão os sentidos e significações do texto em níveis diferentes, como por exemplo, em uma primeiridade com as noções de impressão e sentimento causados pela leitura do poema em si; em uma secundidade com as ações, reações e interações surgidas a partir desta leitura que o leitor faz durante a construção do seu co-texto, diante de sua historicidade como ser interagente, quer social ou culturalmente; e uma terceiridade, que seria a compreensão e interpretação que cada indivíduo gera a partir da infinitude de significações possíveis do texto, ou seja, a síntese intelectual ou elaboração cognitiva que cada ente traduz um pensamento em outro sem interrupções, pois se considera uma representação ad infinitum. Justamente, como Bakhtin diz que a obra está sempre inacabada, porque surgirá novas interpretações e traduções de um mesmo discurso, semioticamente falando, um signo gerando outro em um processo infinito dado as diversas possibilidades que encontramos no texto devido o seu caráter polifônico e polissêmico. Bakhtin (apud Freitas, 1995:155) diz ainda que “a grande temporalidade consiste no diálogo infinito e inconcluso no qual não morre nem um só dos sentidos”.  Com esta citação podemos observar que o diálogo que fazemos com o texto será infinito e inconcluso, porque sempre estaremos reformulando e criando novas significações para os sentidos anteriormente apreendidos. Vale ressaltar também que os sentidos dos textos orais ou escritos adquirem  significações que vão depender da interação e da inter-relação entre emissor e receptor em seus contextos sociais, históricos e culturais.
Embora não seja o caso de uma análise semiótica deste poema, o que nos causou uma oportunidade e curiosidade de relatar, além dos detalhes mencionados, foi a forma final do mesmo onde ele termina de uma forma triádica, pois estabelece relações de complementariedade, pois o todo não continua a identificar-se sem suas partes, e é nesta acepção que a grande gama de significações torna-se triadicamente infinita, pois é a partir das impressões, interações e interpretações que os seres humanos fazem suas elaborações cognitivas.



1.1.                    Charles Sanders Pierce

“In the first place every kind of consciousness enters into cognition. Feelings, in the sense in which alone they can be admitted as a great branch of mental phenomena, form the warp and woof of cognition […]. The will, in the form of attention, constantly enters, and the sense of reality or objectivity, which is what we have found ought to take the place of will, in the division of consciousness, is even more essential yet, if possible. But that element of cognition which is neither feeling nor the polar sense, is the consciousness of a process, and this in the form of the sense of learning, of acquiring, of mental growth is eminently characteristic of cognition. This is a kind of consciousness which cannot be immediate, because it covers a time […]. It differs from immediate consciousness, as a melody does from one prolonged note […]. This is the consciousness that binds our life together. It is the consciousness of synthesis” (Peirce, CP 1.381).

C. S. Peirce (1839-1914) era um cientista, estudou Química na Universidade de Harvard, mas era também matemático, físico, astrônomo. Era um estudioso dos mais sérios tanto da Biologia quanto da Geologia. No campo das ciências culturais, ele se devotou particularmente à Lingüística, Filologia e História, sem contar as enormes contribuições à Psicologia que fizeram dele o primeiro psicólogo experimental dos EUA. Conhecedor de uma dezena de línguas. Realizou estudos em Arquitetura e cultivou amizade de pintores. Conhecedor profundo de Literatura (especialmente Shakespeare e Edgar Allan Poe). Escreveu um longo conto A Tale of Thessaly. E foi também um grande experimentador de vinho.
Podemos compreender melhor, com esta apresentação formal de Pierce, porque a semiótica, ou estudo dos signos, é de uma enorme complexidade, pois fora criada por um lógico, ou filósofo, como ficara conhecido após sua despedida deste mundo terreno, que concebia diversas formas de apreensão destes signos e visualizava por diversos ângulos a definição desta, dada a sua formação intelectual em diversas áreas do conhecimento. Segundo Santaella ( 1996:18),
“a quase inacreditável diversidade de campos a que Pierce se dedicou pode ser explicada, portanto, devido ao fato de que se devotar ao estudo das mais diversas ciências exatas ou naturais, físicas ou psíquicas, era para ele um modo de se dedicar à Lógica. Seu interesse em Lógica era, primariamente, um interesse na Lógica das ciências. Ora, entender a Lógica da ciências era, em primeiro lugar, entender seus métodos de raciocínio. Os métodos diferem muito de uma ciência a outra e, de tempos em tempos, dentro de uma mesma ciência. Os pontos em comum entre esses métodos só podem ser estabelecidos, desse modo, por um estudioso que conheça as diferenças, e que as conheça através da prática das diferentes ciências”.  Voltamos a ressaltar que o desenvolvimento do conhecimento é contínuo, pois é um processo que sofre uma infinita amplitude de impressões, interações e interpretações triadicamente formulada em um contexto social, cultural e histórico, onde cada indivíduo representa um elo ou nó na rede das significações múltiplas internas ou externas aos códigos de uma sociedade.


1.2.                    Semiótica ou Semiologia

O nome Semiótica vem da raiz grega semeion, que quer dizer signo. Então Semiótica é a ciência dos signos, ou da linguagem, ou melhor ainda, de todas as formas de linguagens possíveis, ou seja, tem o objetivo de examinar os modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e sentido. A semiótica segundo Santaella (1996:2) “é uma Filosofia científica da linguagem.
Vale a pena ressaltar a diferença entre língua e linguagem, onde a primeira refere-se a língua que falamos, ou seja, o idioma português, língua nativa, materna, uma forma de linguagem; e a segunda refere-se as outras formas de linguagens, tais como: as imagens, gráficos, sinais, setas, números, luzes. Isto significa que nos comunicamos através de objetos, sons musicais, ou não, gestos, expressões, cheiro, tato, do olhar, do sentir e do apalpar. Portanto, quando falamos em linguagem, diz Santaella (1996:11-12):
 “queremos nos referir a uma gama incrivelmente intrincada de formas sociais de comunicação e de significação que inclui a linguagem verbal articulada, mas absorve também, inclusive a linguagem dos surdos-mudos, o sistema codificado da moda, da culinária e tantos outros. Enfim: todos os sistemas de produção de sentido aos quais o desenvolvimento dos meios de reprodução de linguagem propiciam hoje uma enorme difusão”.
O século XX viu nascer e testemunha o crescimento da Lingüística, ciência que estuda a linguagem verbal em suas dicotomias, por excelência, como por exemplo: a langue / parole e o estudo diacrônico ou sincrônico; e o da Semiótica, ciência de toda e qualquer linguagem. Para Saussure (apud Santaella 1996:77), “a interação dos elementos que constituem a estrutura da língua é de tal ordem que a alteração de qualquer elemento, por mínimo que seja, leva à alteração de todos os demais elementos do sistema como um todo”, ou seja, a língua como sistema ou estrutura regida por reis e regras específicas e autônomas. A teoria saussureana tem por objeto os mecanismos lingüísticos gerais, quer dizer, o conjunto de regras e dos princípios de funcionamento que são comuns a todas as línguas. Para Saussure, portanto, a língua é  um sistema de valores diferenciais,  isto é, a língua é uma forma na qual cada elemento, desde um simples som elementar, só existe e adquire seu valor em função por oposição a todos os outros. Cada elemento, portanto, só é o que é por diferença em relação àquilo que todos  não são. O valor é determinado por suas relações no interior do sistema. Para Saussure, a Semiologia teria por objeto o estudo de todos os sistemas de signos na vida social. Nessa medida, a Lingüística seria uma parte da Semiologia que, por sua vez, seria uma parte da Psicologia Social.
A Semiologia estuda o signo lingüístico descontínuo na vida social, enquanto, a Semiótica, estuda os signos, não somente os lingüísticos, como vimos anteriormente, mas de uma forma contínua, pois sua apreensão pode variar a cada momento e a cada nível de associação de idéias, quer seja, em primeiridade, secundidade, ou terceiridade. O processo sígnico pode ser estudado em três níveis: sintático, quando se refere às relações formais dos signos entre si; semântico, quando envolve as relações de significado, entre signo e referente; pragmático, nível que implica as relações significantes com o intérprete, ou seja, com aquele que utiliza os signos.


2.     Fenomenologia ou Phaneroscopia



“Or chacun d'eux est justiciable d'une phanéroscopie, c'est à dire d'une analyse en termes d'appartenance à l'une des trois catégories. Il s'ensuit que toutes les possibilités théoriques de description des phénomènes sémiotiques résulteront des possibilités combinatoires des décompositions de chacun des trois phanérons entre elles compte-tenu des déterminations constitutives de la triade. En somme les taxinomies des éléments des phénomènes vont engendrer des taxinomies de ces ""tri-phénomènes" que sont les phénomènes sémiotiques”.


Para Pierce, a primeira instância de um trabalho filosófico é a fenomenológica. A tarefa precípua de um filósofo é a de criar a Doutrina das Categorias, que tem por função realizar a mais radical análise de todas as experiências possíveis. Foi profundamente influenciado por Kant, mas considerando suas categorias, extraídas da análise lógica da proposição, como sendo materiais e particulares e não formais e universais.
Com Hegel, Pierce manteve relações contraditórias. Desprezava seu idealismo absoluto ao mesmo tempo que o considerava “o mais grandioso dos filósofos”. Ele via nos pensamentos formulados por Hegel em suas categorias da tese, análise e síntese, profundas semelhanças com suas categorias fenomenológicas universais.
A Fenomenologia, como base fundamental e para qualquer ciência, meramente observa os fenômenos e, através da análise, postula as formas ou propriedades universais desses fenômenos. Devem nascer daí as categorias universais de toda e qualquer experiência e pensamento.
Através de sua Fenomenologia, Pierce pretendia gerar uma fundamentação conceitual para uma filosofia arquitetônica, baseada em uns poucos conceitos simples e suficientemente vastos a ponto de dar conta do “trabalho inteiro da razão humana”.
Phaneroscopia, ou seja, descrição dos Phanerons ou fenômenos, daí o nome Fenomenologia ou Phaneroscopia como o estudo dos fenômenos. Entendendo-se por fenômeno qualquer coisa que esteja de algum modo em qualquer sentido presente à mente, isto é, qualquer coisa que apareça, seja ela externa, seja ela interna, quer pertença a um sonho, ou uma idéia geral e abstrata da ciência, a fenomenologia seria, segundo Pierce, a descrição e análise das experiências que estão em aberto para todo homem, cada dia e hora, em cada canto e esquina de nosso cotidiano.
A fenomenologia peirciana começa, pois, no aberto, sem qualquer julgamento de qualquer espécie: a partir da experiência ela mesma, livre dos pressupostos que, de antemão, dividiriam os fenômenos em falsos ou verdadeiros, reais ou ilusórios, certos ou errados. Ao contrário, o fenômeno é tudo aquilo que aparece à mente, corresponda a algo real ou não.
Suportada por esse modo de partir em estado de liberdade, a fenomenologia tem por tarefa, contudo, dar a à luz as categorias mais gerais, simples, elementares e universais de todo e qualquer fenômeno, isto é, levantar os elementos ou características que pertencem a todos os fenômenos e participam de todas as experiências.
Dizia Pierce: “A fenomenologia ou doutrina das categorias tem por função desenredar a emaranhada meada daquilo que, em qualquer sentido, aparece, ou seja, fazer análise de todas as experiências é a primeira tarefa a que a filosofia tem de se submeter.  Ela é a mais difícil de suas tarefas, exigindo poderes de pensamento muito peculiares, a habilidade de agarrar nuvens, vastas e intangíveis, organizá-las em disposição ordenada, recolocá-las em processo”.
Nessa  medida, são três as faculdades que devemos desenvolver para esta tarefa: a capacidade contemplativa; saber distinguir, discriminar resolutamente diferenças nessas observações; e ser capaz de generalizar as observações em classes ou categorias abrangentes.
Foi só através da observação direta dos fenômenos, nos modos como eles se apresentam à mente, que as categorias universais, como elementos formais do pensamento, puderam ser divisadas. Pela acurada e microscópica observação de tudo que aparece, Pierce extrai os caracteres elementares e gerais da experiência que tornam a experiência possível.  Desse modo, sua pequena lista de categorias consiste de concepções simples e universais.  Elementares porque são constituintes de toda e qualquer experiência, universais porque são necessárias a todo e qualquer entendimento que possamos ter das coisas, reais ou fictícias.
Considerando experiência tudo aquilo que se força sobre nós, impondo-se ao nosso reconhecimento, e não confundindo pensamento com pensamento racional, pois este é apenas um dentre os casos possíveis de pensamento, Pierce conclui que tudo que aparece à consciência, assim o faz numa gradação de três propriedades que correspondem aos três elementos formais de toda e qualquer experiência.
Em 1867, essas categorias foram denominadas: Qualidade, Relação e Representação, que posteriormente receberam denominações mais amplas, repetindo somente o primeiro termo: Qualidade, Reação e Mediação, que cientificamente, Pierce fixou-as como: Primeiridade, Secundidade e Terceiridade, por serem palavras inteiramente novas, livres de falsas associações a quaisquer termos já existentes.
Para ser ter uma idéia da amplitude e abertura máxima dessas categorias, basta lembrarmos que, geralmente, a 1a corresponde ao acaso, originalidade irresponsável e livre, variação espontânea; a 2a corresponde à ação e reação dos fatos concretos, existentes e reais, enquanto a 3a categoria diz respeito à mediação ou processo, crescimento contínuo e devir sempre possível pela aquisição de novos hábitos. Pierce diz “Não perguntamos o que realmente existe, apenas o que a parece a cada um de nós em todos os momentos de nossa vida. Analiso a experiência, que é resultante de nossa vida passada, e nela encontro três elementos. Denomino-os categorias”. Contudo, que não se entenda essas categorias como entidades mentais, mas como modos de operação do pensamento-signo que se processam na mente.



2.1.                     Primeiridade

“A sign is anything, of whatsoever mode of being, which mediates between an object and an interpretant; since it is both determined by the object relatively to the interpretant, and determining the interpretant in reference to the object, in such wise as to cause the interpretant to be determined by the object through the mediation of this ‘sign’". (MS 318)

Trata-se de uma consciência imediata de uma qualidade pura de ser e de sentir. A qualidade da consciência imediata é uma impressão (sentimento) in totum, indivisível, não analisável, inocente e frágil. O sentimento como qualidade é aquilo que dá sabor, tom, matiz à nossa consciência imediata, mas é também paradoxalmente justo aquilo que se oculta ao nosso pensamento, porque para pensar precisamos nos deslocar no tempo, deslocamento que nos coloca fora do sentimento mesmo que tentamos capturar. Embora qualidade de sentimento só possa se dar no instante mesmo de uma impressão não analisável e incapturável, ou seja, num simples átimo, esse momento de impressão, dependendo do estado em que a consciência se encontra, pode ser prolongado. O primeiro é presente, imediato, fresco, novo, iniciante, original, espontâneo, livre, vívido e evanescente, pois, ao contrário, seria já um segundo. Consciência em primeiridade é qualidade de sentimento e, por isso mesmo, é primeira, ou seja, a primeira apreensão das coisas, que para nós aparecem, já é tradução, finíssima película de mediação entre nós e os fenômenos.
Quando iniciei meus estudos em Semiótica em fevereiro deste ano sem fazer ainda conjecturas a respeito da mesma, onde tudo era novo, fresco e evanescente, encontrava-me em primeiridade, porque aí era iniciante, pois a consciência ainda estava em uma qualidade de sentimento ou impressão original e livre de uma realidade fora do meu mundo de compreensão, pois se já tivesse compreendido, já não seria uma primeiridade e sim uma secundidade.
Concluindo, a primeiridade ou mônoda é o começo, correspondendo às noções de acaso, indeterminação, vagueza, indefinição, possibilidade, originalidade irresponsável e livre, espontaneidade, frescor, potencialidade, presentidade, imediaticidade, qualidade, sentimento (Pierce 1992:280).
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2.2.                     Secundidade

“It is clearly indispensable to start with an accurate and broad analysis of the nature of a Sign. I define a sign as an thing which is so determined by something else, called its Object, and so determines an effect upon a person, which effect I call its interpretant, that the latter is thereby mediately determined by the former. My insertion of ’upon a person’ is a sop to Cerberus, because I despair of making my own broader conception understood” (Pierce in a Letter to Lady  Welby dated "1908   Dec.23").
Há um mundo real, reativo, um mundo sensual, independente do pensamento e, no entanto, pensável, que se caracteriza pela secundidade. O simples fato de estarmos vivos, existindo, significa, a todo momento, consciência reagindo em relação ao mundo.  Existir é sentir a ação de fatos externos resistindo à nossa vontade; e estar numa relação, tomar um lugar na infinita miríade das determinações do universo, resistir e reagir, ocupar um tempo e espaço particulares, confrontar-se com outros corpos.
Certamente, onde quer que haja um fenômeno, há uma qualidade, isto é, sua primeiridade.  Mas a qualidade é apenas uma parte do fenômeno, visto que, para existir, a qualidade tem de estar encarnada numa matéria.  A factualidade do existir, ou seja, sua secundidade, está nessa corporificação material. Meras qualidades não resistem, pois é a matéria que resiste. Consideramos a primeiridade como efêmera, pois sua impressão ou sentimento iniciante, livre, novo e original quando corporificado em um processo mental já adquire sua materialização, portanto, encontra-se já em secundidade, pois o fenômeno adquire sua existência mental, quer seja real ou não.
Agir, reagir, interagir e fazer são modos marcantes, concretos e materiais de dizer o mundo, interação dialógica, ao nível da ação, do homem com sua historicidade.
Durante o curso de semiótica, passei de um momento primeiro para um momento segundo, pois a informação adquirida inicia-se numa fase de corporificação material onde estamos agindo e reagindo freqüentemente com tudo que nos cerca. E é a partir desta interação dialógica que saímos de um estado original e livre para um estado real, pensável e reativo da consciência mental.
Concluindo, a secundidade ou díada, é o determinado, terminado, final, objeto, correlativo, necessitado, reativo, estando ligando às noções de relação, polaridade, negação, matéria, realidade, força bruta e cega, compulsão, ação-reação, esforço-resitência, aqui e agora, oposição, efeito, ocorrência, fato, vividez, conflito, surpresa, dúvida, resultado (Pierce 1992:280).


2.3.                     Terceiridade

 “Un Représentamen peut être considéré de trois points de vue formels, à savoir, premièrement, comme la substance de la représentation, ou le véhicule de la Signification, qui est commun aux trois représentamens de la triade, deuxièmement comme le quasi-agent de la représentation, sa vérité émanant de sa conformité avec lui, c'est-à-dire, comme l'Objet Naturel, et troisièmement comme le quasi-patient dans la représentation, ou ce dont la modification dans la représentation fait son Intelligence; et peut être appelé l'Interprétant. Ainsi, en regardant une carte, la carte elle-même est le véhicule, la région représentée est l'Objet Naturel, et l'idée excitée dans l'esprit est l 'Interprétant” (MS 1345).

Primeiridade é a categoria que dá à experiência sua qualidade distintiva, seu frescor, originalidade irrepetível e liberdade. Secundidade é aquilo que dá à experiência seu caráter factual, de luta e confronto. Ação e reação ainda em nível de binariedade pura, sem o governo da camada mediadora da intencionalidade, razão ou lei. Finalmente, terceiridade, que aproxima um primeiro e um segundo numa síntese intelectual, corresponde à camada de inteligibilidade, ou pensamento em signos, através da qual representamos e interpretamos o mundo.
Algumas das idéias de terceiridade que, devido à sua importância na filosofia e na ciência, requerem estudo atento são: generalidade, infinitude, continuidade, difusão, crescimento e inteligência.
Compreender, interpretar e traduzir um pensamento em outro pensamento num movimento ininterrupto, pois só podemos pensar um pensamento em outro pensamento. É porque o signo está numa relação a três termos que sua ação pode ser bilateral: de um lado, representa o que está fora dele, seu objeto, e de outro lado, dirigi-se para alguém em cuja mente se processará sua remessa para um outro signo, ou pensamento onde seu sentido se traduz, e assim, sucessivamente ad infinitum.
Segundo Pierce: “Nenhuma linha firme de demarcação pode ser desenhada entre diferentes estados integrais da  mente, isto é, entre estados tais como sentimento, vontade e conhecimento. É claro que estamos ativamente conhecendo em todos os nossos minutos de vigília e realmente sentindo também. Se não estamos sempre querendo, estamos pelo menos, a todo momento, com a consciência reagindo em relação ao mundo externo”.
Ao iniciar este projeto, depois de finalizar o curso desta disciplina, começo o meu processo de terceiridade, pois agora, mais do que nunca, tenho que transformar as informações, adquiridas pelas interações das ações e reações com este mundo novo da semiótica, em elaboração cognitiva através de uma interpretação à nível de consciência mental, dos significados ora produzidos e traduzi-los para essa nova realidade ou irrealidade da qual fazemos parte. Quando conseguimos produzir significações a partir destes processos mentais realizados, significa que atingimos o nível de terceiridade.
Concluindo, o terceiro ou  tríade é o meio, devir, o que está em desenvolvimento, dizendo respeito a generalidade, continuidade, crescimento, mediação, infinito, inteligência, lei, regularidade, aprendizagem, hábito, signo (Pierce 1992:280).


3.     Ciências Normativas



“I begin by explaining the nature of the normative sciences. […].Their peculiar dualism, which appears in the distinctions of the beautiful and the ugly, right and wrong, truth and falsity, and which is one cause of their being mistaken for arts, is really due to their being on the border between mathematics and positive science; and to this, together with their great abstractness, is due their applicability to so many subjects, which also helps to cause their being taken for arts. Having analyzed the nature of the precise problems of the three, and given some considerations generally overlooked, I show that ethics depends essentially upon esthetics and logic upon ethics” (MS L75.359-361, Memoir 9 “On the Bearing of Esthetics and Ethics Upon Logic”, 1903).

A Fenomenologia é totalmente independente das ciências normativas, pois é sob a sua base que as ciências normativas se desenvolvem obedecendo à seqüência seguinte: Estética, Ética e Semiótica ou Lógica.
As ciências normativas, que se seguem à fenomenologia, são assim chamadas porque estão voltadas para a compreensão dos fins, das normas e ideais que guiam o sentimento, a conduta e o pensamento humanos. Elas não estudam os fenômenos tal como aparecem, pois essa é a função da fenomenologia, mas os estudam na medida em que podemos agir sobre eles e eles sobre nós. Elas estão voltadas, assim, para o modo geral pelo qual o ser humano, se for agir deliberadamente e sob controle, deve responder aos apelos da experiência (Santaella 1994a:113-114)

3.1.                     Estética


A Estética se define como ciência daquilo que é objetivamente admirável sem qualquer razão ulterior. É a base para a Ética que recebe da Estética seus primeiros princípios.
Pierce não entendia a estética meramente como uma doutrina do belo. Cada vez mais claramente, ele passou a ver que “não podemos evitar perguntas sobre o que deve ser a aplicação última, na verdade, a meta suprema, o ideal último que nos seduz e no qual devemos nos empenhar”. Cabe à estética, concebida num sentido muito mais vasto do que o de uma teoria do belo, descobrir o que deve ser o ideal supremo da vida humana. Cabe a ela “determinar por análise o que devemos admirar per se”(CP 5.36), indagar sobre “qual é o estado de coisas que é admirável por si só, sem relação com qualquer razão ulterior” (CP 1.611).  Estados de coisas que, mais cedo ou mais tarde, todos tenderão a concordar que são dignos de admiração.


3.2.                     Ética


Também para a ética Pierce deu uma interpretação tão original quanto deu para a estética. Costuma-se definir a ética como doutrina do bem e do mal. Pierce discordou disso. O que constitui a tarefa da ética é justamente justificar as razões pelas quais certo e errado são concepções éticas. Para ele, o problema fundamental da ética está voltado para aquilo que estamos deliberadamente preparados para aceitar como afirmação do que queremos fazer, do que temos em mira, do que buscamos.
O fim último da ética reside na estética. O ideal estético, a adoção deliberada do ideal e o empenho para atingi-lo são éticos. A adoção do ideal e do empenho para realizá-lo sendo deliberados, dão expressão à nossa liberdade no seu mais alto grau (Santaella 1992).
O empenho ético é, portanto, o meio pelo qual a meta do ideal estético se materializa, assim como a lógica é o meio pelo qual a meta ética se corporifica. Uma vez que cada uma das ciências normativas diz respeito a um aspecto particular do ideal geral, cada uma continuamente retifica e adiciona conteúdo às outras, e, assim fazendo, aumenta a compreensão da idéia geral.

3.3.                     Semiótica ou Lógica


“Un signe est quelque chose qui représente une autre chose pour un esprit. Pour son existence comme tel trois choses sont requises. En premier lieu, il doit avoir des caractères qui nous permettront de le distinguer des autres objets. En second lieu, il doit être affecté d'une façon ou d'une autre par l'objet qui est signifié ou au moins quelque chose le concernant doit varier comme conséquence d'une cause réelle avec quelque variation de son objet”.  (MS 380)

Sob a Estética e a Ética, e delas extraindo seus princípios, estrutura-se em três ramos a ciência Semiótica, teoria dos signos e do pensamento deliberado.
A Semiótica ou Lógica tem por função classificar e descrever todos os tipos de signos logicamente possíveis. Isso parece dotá-la de um caráter ascendente sobre as ci6encias especiais, dado que essas ciências são linguagens.
Para Pierce, a lógica tem dois sentidos: um mais estreito e outro mais vasto. No primeiro, lógica é a ciência das condições necessárias para se atingir a verdade. No sentido mais amplo, é a ciência das leis necessárias do pensamento. Mas, uma vez que todo pensamento ocorre em signos, a lógica, no seu segundo sentido, é semiótica geral, tratando não apenas da verdade, mas também das condições gerais dos signos como signos. Trata também das leis de evolução do pensamento, o que coincide com o estudo das condições necessárias para a transmissão de significado de uma mente a outra, e de um estado mental a outro (CP 1.444).


3.3.1.  Gramática pura


“[a sign] creates in the mind of that person an equivalent sign, or perhaps a more developed sign. That sign which it creates I call the interpretant of the first sign” (CP 2.228). 


A gramática pura ou especulativa tem por função estudar a fisiologia dos signos de todos os tipos (CP 2.83).  Investiga suas naturezas e significados, determinando as condições a que devem se conformar para serem signos.
Há uma íntima ligação entre a fenomenologia e a doutrina dos signos, visto que a terceira categoria fenomenológica corresponde à noção de signo.  A manifestação mais simples de terceiridade também significa continuidade, generalidade, síntese, aprendizagem, crescimento etc., está na noção de signo. Em termos muito gerais, o signo é um primeiro que põe um segundo, seu objeto, numa relação com um terceiro, seu interpretante. O signo, portanto, é mediação, pertencendo ao reino da terceiridade. Entretanto, Pierce expandiu a noção de signo a um tal ponto que uma mera ação e reação, evento, situação existencial, quer dizer, qualquer fenômeno no domínio da secundidade pode funcionar como signo. Pierce levou a noção mais longe, de modo que uma simples qualidade de sentimento também pode funcionar como signo, a mais rudimentar e degenerada forma de signo, mas mesmo assim signo, ou melhor, algo como um quase-signo.
Pode-se ver claramente que a semiótica nasce no interior da fenomenologia, visto que a terceiridade é a categoria do signo, a fenomenologia é reintrojetada dentro da semiótica, pois Pierce expande a noção de signo para absorver também a secundidade, o existente como signo e a primeiridade, a qualidade e o sentimento como signos. Vem daí  a amplitude da noção peirciana de signo que se aplica a uma vasta gama de fenômenos, desde uma estrutura dissipativa no mundo físico, coração do concreto, até uma equação matemática ou uma idéia abstrata da ciência no universo do pensamento abstrato.


3.3.2.  Lógica Crítica

“Une représentation mentale est quelque chose qui met l'esprit en relation avec un objet. Une représentation généralement (Je définis ici mon utilisation de ce terme) est quelque chose qui amène une chose en relation avec une autre. La conception de troisième est ici impliquée, et par conséquent, aussi, la conception de second ou autre et de premier ou un. Une représentation n'est en fait qu'un quelque chose qui a un troisième à travers un autre. Nous pouvons considérer un objet : comme un quelque chose, avec des déterminations internes; - comme relié à un autre ; comme amenant un second en relation avec un troisième” (MS 810).



A lógica crítica ou lógica propriamente dita, corresponde ao sentido estrito e mais estreito da lógica. Ela começa onde a gramática especulativa termina, quer dizer, no tipo mais complexo de toda a classificação peirciana dos signos, a saber, o símbolo argumental. Assim, a lógica crítica tem por função investigar as condições de verdade das inferências lógicas, dos argumentos, ou melhor, investigar a força comprobatória de cada tipo de argumento.
Do mesmo modo que, na gramática especulativa, Pierce ampliou consideravelmente a noção de signo, na lógica crítica, ele também descobriu um tipo novo de argumento, a abdução.  O estudo observacional do raciocínio, que sempre se dá em signos, o levou à conclusão de que há três tipos de argumentos que se baseiam nos três tipos possíveis de inferência ou raciocínio: o abdutivo, o indutivo e o dedutivo. A lógica crítica foi assim desenvolvida como uma teoria unificada da abdução, indução e dedução. Enquanto a abdução é o quase raciocínio, lampejo da descoberta, responsável pelo nascimento das hipóteses, a dedução extrai as conseqüências lógicas da hipótese e a indução testa sua validade.


3.3.3.  Retórica especulativa

A metodêutica ou retórica especulativa estuda as condições gerais da relação dos símbolos e outros signos com seus interpretantes, a eficácia semiótica.  Trata-se de um estudo teórico que também tem por objetivo examinar a ordem ou procedimento apropriado a qualquer investigação.
A metodêutica nasceu como conseqüência necessária, em primeiro lugar, da descoberta peirciana de que os tipos de raciocínio, abdução, indução e dedução, se constituem também em tipos de métodos empregados pelas ciências; em segundo lugar, nasceu da descoberta subseqüente de que esses mesmos métodos se constituem em estágios de toda e qualquer investigação científica, na seguinte seqüência: abdução ou descoberta de uma hipótese; dedução ou extração das conseqüências da hipótese; indução ou teste da hipótese.
Sem esse estudo teórico dos argumentos, os métodos, quando empregados incorretamente, ficam destituídos do poder de autocorreção. É a incessante crítica exercida pela comunidade dos investigadores que pode ir corrigindo o método da ciência tendo como meta a verdade, sempre aproximável, mas nunca inteiramente atingida. Uma das primeiras lições da semiótica é a de que estamos sempre a meio caminho da verdade.
3.3.4.  Classificação dos signos piercianos

“Un signe, ou representamen, est quelque chose qui tient lieu pour quelqu'un de quelque chose sous quelque rapport ou à quelque titre. Il s'adresse à quelqu'un, c'est-à-dire créé dans l'esprit de cette personne un signe équivalent ou peut-être un signe plus développé. Ce signe tient lieu de quelque chose : son objet. Il tient lieu de cet objet, non sous tous rapports, mais par référence à une sorte d'idée que j'ai appelée quelquefois le fondement du représentamen”. (CP 2.228)

Segundo Pierce, “um signo intenta representar, em parte, pelo menos, um objeto que é, portanto, num certo sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo que o signo represente o objeto falsamente.  Mas dizer que ele representa seu objeto implica que ele afete uma mente tal modo que, de certa maneira, determina, naquela mente, algo que é mediatamente devido ao objeto. Essa determinação da qual a causa imediata ou determinante é o signo e da qual a causa mediada é o objeto pode ser chamada interpretante” (CO 6.347).
Resumidamente, podem ser extraídos da definição os seguintes pontos:
1.      o signo é determinado pelo objeto, isto é, o objeto causa o signo, mas
2.      o signo representa o objeto, por isso mesmo é signo;
3.      o signo representa algo, mas é determinado por aquilo que ele representa;
4.      o signo só pode representar o objeto parcialmente e
5.      pode, até mesmo, representá-lo falsamente;
6.      representar o objeto significa que o signo está apto a afetar uma mente, isto é, nela produzir algum tipo de efeito;
7.      esse efeito produzido é chamado interpretante do signo;
8.      o interpretante é imediatamente determinado pelo signo e mediatamente determinado pelo objeto, isto é,
9.      o objeto também causa o interpretante, mas através da mediação do signo;
10.  o signo é uma mediação entre o objeto (aquilo que ele representa) e o interpretante (o efeito que ele produz), assim como
11.  o interpretante é uma mediação entre o signo e um outro signo futuro, numa relação ad infinitum, dando origem a novos signos continuamente.

Resumindo, o signo é uma estrutura complexa de três elementos íntima e inseparavelmente interconectados: fundamento, objeto e interpretante. O fundamento é uma propriedade ou caráter ou aspecto do signo que o habilita a funcionar como tal. O objeto é algo diferente do signo, algo que está fora do signo, um ausente que se torna mediatamente presente a um possível intérprete graças à mediação do signo. O interpretante é um signo adicional, resultado do efeito que o signo produz em uma mente interpretativa, não necessariamente humana, uma máquina, por exemplo, ou uma célula interpretam sinais. O interpretante não é qualquer, mas um signo que interpreta o fundamento. Através dessa interpretação o fundamento revela algo sobre o objeto ausente, objeto que está fora e existe independentemente do signo.


3.3.4.1.      Relação do signo consigo mesmo


3.3.4.1.1.         Quali-signo


“Um quali-signo é um signo considerado particularmente no que diz respeito à sua qualidade intrínseca sua aparência (isto é, sua propriedade primeira) – apenas na medida em que aquela qualidade é constitutiva de uma identidade sígnica que ele carrega: não é costitutiva dele como signo, mas sim dele como o signo particular que ele é” (Ransdell, 1983).


Explicando: o quali-signo funciona como signo por intermédio de uma primeiridade da qualidade, qualidade como tal, possibilidade abstraída de qualquer relação empírica espaço-temporal da qualidade com qualquer outra coisa. É algo que só pode ser mostrado e imitado, pois não se pode ser descrito nos fragmentos de suas partes, nem definido verbalmente.
Segundo Pierce, “um Quali-signo é uma qualidade que é um Signo. Não pode realmente atuar como signo até que se corporifique; mas esta corporificação nada tem a ver com seu caráter como signo” (CP 244).

3.3.4.1.2.         Sin-signo

“Um sin-signo é um signo considerado especialmente no que diz respeito a uma relação diádica na qual ele se situa – sua ocorrência ou existência atual (seu ocorrer ou existir: uma propriedade Segunda) – apenas na medida em que isso é constitutivo de uma identidade sígnica que ele carrega”(Ransdell, 1983).

O prefixo sin pretende sugerir a idéia de único, singular, aqui e agora. Pierce também se refere ao sin-signo como um objeto da experiência direta. Assim, qualquer coisa que compele  nossa atenção é, na sua insistência, um segundo em relação à atenção compelida. É o tropeço do encontro ou ocorrência que deve ser essencial ao sin-signo e que faz dele um signo. É claro que ele envolve quali-signos. Nesse caso, não é a qualidade em si mesma que está funcionando como signo, mas sim sua ocorrência no tempo e espaço numa corporificação singular.

3.3.4.1.3.         Legi-signo

“Um  legi-signo é um signo considerado no que diz respeito a um poder que lhe é próprio de agir semioticamente, isto é, de gerar signos interpretantes, sendo que sua identidade particular se dá pela margem de signos interpretantes que ele é capaz de gerar” (Ransdell, 1983).

Nem todo signo, que tem um caráter geral ou de lei, é necessariamente um legi-signo. Ele só funciona como legi-signo na medida em que a lei é tomada como propriedade que rege seu funcionamento sígnico.  A linguagem verbal é o exemplo mais evidente de legi-sgino ou sistema de legi-signos. Como qualquer exemplar de legi-signo, só toma parte na experiência ou tem existência concreta por intermédios de suas manifestações. Essas instâncias de manifestação são denominadas “réplicas”. Exemplo, segundo Pierce, “a palavra “o” normalmente aparecerá de quinze a vinte e cinco vezes numa página. Em todas essas ocorrências é uma e a mesma palavra, o mesmo legissigno. Cada uma de suas ocorrências singulares é uma Réplica. A Réplica é um Sinsigno. Assim, todo Legissigno requer Sinsignos. Mas estes não são Sinsignos comuns, como são ocorrências peculiares que são encaradas como significantes. Tampouco a Réplica seria significante se não fosse pela lei que a transforma em significante” (CP: 245).


3.3.4.2.      Relação do signo com o seu objeto dinâmico

3.3.4.2.1.         Ícone

“A sign may be iconic, that is, may represent its object mainly by its similarity, no matter what its mode of being. If a substantive be wanted, an iconic representamen may be termed a hypoicon” (CP 2.276)


Se o signo tem uma propriedade monádica (qualidade, primeiridade), então ele é um ícone do objeto. Uma vez que a propriedade monádica é não-relacional, a única relação possível que o ícone pode ter com o seu objeto, em virtude de tal propriedade, é aquela de ser idêntico a seu objeto.
Em outras palavras, o que identidade significa, nesse caso, é similaridade ou semelhança ou igualdade em algum aspecto, e não identidade total. Assim sendo, um signo é um ícone se ele se assemelhar ao seu objeto e se a qualidade ou caráter, no qual essa semelhança está fundada, pertencer ao próprio signo, quer seu objeto exista ou não.
Um Ícone é um signo que se refere ao Objeto que denota apenas em virtude de seus caracteres próprios, caracteres que ele igualmente possui quer um tal Objeto realmente exista ou não. É certo que, a menos que realmente exista um tal Objeto, o Ícone não atua como signo, o que nada tem a ver com seu caráter como signo. Qualquer coisa, seja uma qualidade,  um existente individual ou uma lei, é Ícone de qualquer coisa, na medida em que for semelhante a essa coisa e utilizado como um seu signo (CP 247).
O ícone puro diz respeito ao ícone como mônada indivisível e sem partes e, como tal, trata-se de algo mental. O ícone puro é um cosa mentale, meramente possível, imaginante, indiscernível sentimento da forma ou forma de sentimento, ainda não relativa a nenhum objeto e, consequentemente, anterior à geração de qualquer interpretante. O ícone atual diz respeito à função desempenhada pelo ícone nos processos perceptivos e, como tal, é relativo ao aspecto obsistencial (diádico) do ícone, tendo, por isso mesmo, duas faces: qualidade de sentimento, na identidade formal e material entre signo e objeto; e possíveis associações por semelhança.
O signo icônico, por sua vez, já mais sistematizado por Pierce, diz respeito a algo que já se apresenta como signo, representando alguma coisa e, como tal, intrinsecamente triádico, apesar de se tratar de uma tríade não genuína, visto que regida por relações de comparação e cuja referência ao objeto se dá por semelhança. Sendo triádico, o signo icônico ou hipoícone terá três faces ou graus que correspondem: à imagem; ao diagrama; e à metáfora.





3.3.4.2.2.         Índice

“O Índice é um signo cuja significação de seu Objeto se deve ao fato de ele ter uma relação genuína com aquele Objeto, sem se levar em conta o interpretante. É o caso, por exemplo, da exclamação “Eh!” como indicativa de perigo iminente ou uma batida na porta como indicativa de uma visita” (CP 2.92).

Os índices são os tipos de signos que podem ser mais fartamente exemplificados. Diferentemente dos ícones que, para funcionarem como signos, dependem de hipotéticas relações de similaridade, também diferentes das abstrações gerais que comandam o universo dos símbolos, os índices são prioritariamente sin-signos com os quais estamos continuamente nos confrontando em todo momento da vida.      
São índices: termômetros, cataventos, relógios, barômetros, bússolas, a Estrela Polar, fitas-métricas, o furo de uma bala, um dedo apontado, fotografias, o andar de um homem, uma batida na porta, as circunstâncias de um enunciado, os pronomes demonstrativos, possessivos, relativos e seletivos etc.
O índice possui dois elementos: um deles serve como substituto para o objeto, o outro constitui um ícone que representa o próprio signo como qualidade do objeto. Assim, uma pegada, por exemplo, na sua aparência qualitativa, é uma imagem de um pé. Não é esse ícone, mesmo que, nesse caso, ele seja substancial, que faz esse signo agir como índice, mas o fato de haver uma conexão dinâmica, factual, existencial entre o pé e o traço por ele deixado.  Todo índice tem um ícone embutido, o qual não precisa necessariamente ser uma imagem do objeto. Ele pode ter características que são próprias dele, como é o caso da fumaça em nada similar à imagem do fogo.


3.3.4.2.3.         Símbolo

O ícone é um signo cuja virtude reside em qualidades que lhe são internas e o funcionamento como signo será sempre, a posteriori, dependente de um intérprete que estabeleça uma relação de comparação por semelhança entre duas qualidades : aquela que o próprio ícone exibe e uma outra que passará, então, a funcionar como objeto do ícone.  O índice é um signo onde a virtude está na sua mera existência presente, em conexão com uma outra que tem por função chamar a atenção de algum intérprete para essa conexão. O símbolo é um signo cuja virtude está na generalidade da lei, regra, hábito ou convenção de que ele é portador e a função como signo dependerá precisamente dessa lei ou regra que determinará seu interpretante.
O ícone tem, dentro de si, um caráter significativo, independentemente da existência ou não de seu objeto, podendo este ser criado posteriormente no ato interpretativo, quando, então, o ícone funcionará como signo. O índice perderia, de imediato, o caráter que faz dele um signo se o seu objeto não existisse, caráter esse que independe da existência do interpretante. O símbolo, por sua vez, é, em si mesmo, apenas uma mediação, um meio geral para o desenvolvimento de um interpretante. Ele constitui um signo pelo fato de que será usado e interpretado como tal. É no interpretante que reside sua razão de ser signo. Seu caráter esta na sua generalidade e sua função é crescer nos interpretantes que gerará.
Segundo Pierce (249), “um Símbolo é um signo que se refere ao Objeto que denota em virtude de uma lei, normalmente uma associação de idéias gerais que opera no sentido de fazer com que o Símbolo seja interpretado como se referindo àquele Objeto”.



3.3.4.3.      Relação do signo com o seu interpretante

3.3.4.3.1.         Rema

Um rema é um signo que é interpretado por seu interpretante final como representando alguma qualidade que poderia estar encarnada em algum objeto possivelmente existente. É assim que o quali-signo é compreendido no interpretante final, como presença de um signo de uma qualidade que poderia estar corporificada em alguma ocorrência ou alguma entidade apenas possível.
Em Pierce (250) “um Rema é um signo que, para seu interpretante, é um Signo de Possibilidade qualitativa, ou seja, é entendido como representando esta e aquela espécie de Objeto possível. Todo Rema propiciará, talvez, alguma informação, mas não é interpretado nesse sentido”.

3.3.4.3.2.         Dicente

O dicente é um signo que será interpretado pelo seu interpretante final como propondo e veiculando alguma informação sobre um existente, em contraposição ao ícone, por exemplo, do qual só se pode derivar informação (2.309). O meio mais fácil de se reconhecer o dicente é saber que ele ou é verdadeiro ou é falso; mas em contraposição ao argumento, ele não nos fornece razões porque é falso ou verdadeiro. Ele é um signo puramente referencial, reportando-se a algo existente. Desse modo, seu interpretante terá uma relação existencial, real como objeto do dicente, tal como este mesmo tem.

3.3.4.3.3.         Argumento

Um argumento ou inferência é um signo que é interpretado por seu interpretante Final como um signo de lei, regra reguladora ou princípio guia, ou melhor, “é um signo cujo interpretante lhe representa o objeto como sendo um signo ulterior, por meio de uma lei”. Isto é, a lei segundo a qual “a passagem de todo o conjunto das premissas para as conclusões tende a ser verdadeira”(2.203).
Um argumento deve ser compreendido por seu interpretante como derivando validamente uma conclusão de suas premissas porque ele pertence a uma classe de inferências possíveis que se conformam com um princípio guia.

3.4.                     Metafísica

A Metafísica ou ciência da realidade. Definindo realidade ou real como sendo precisamente aquilo que é de modo independente das nossas fantasias, pois “vivemos num mundo de forças que atuam sobre nós, sendo essas forças, e não as transformações lógicas do nosso próprio pensamento, que determinam em que devemos, por fim acredita”, fica claro porque a Metafísica comparece como resultante e não antecedente de toda filosofia de Pierce.
Assim verifica-se que a metafísica, como terceira divisão da filosofia, estuda os fenômenos em seu nível de terceiridade. A fenomenologia seleciona os elementos indecomponíveis, nível de primeiridade, através dos quais os conceitos são construídos. As ciências normativas estudam os fenômenos em sua secundidade, culminando numa investigação sobre como a mente deve responder aos impactos do fenômeno quando o ideal supremo da estética, o summum bonum, é deliberadamente buscado. A metafísica faz a mediação entre as duas primeiras divisões, inquirindo sobre os traços gerais da realidade que, para Pierce, consiste em regularidade. Regularidade real é lei ativa. Lei ativa  é razoabilidade eficiente.

4.     Análise Semiótica do Computador

“Todo inventor, até mesmo um gênio, sempre é conseqüência de seu tempo e ambiente. Sua criatividade deriva das necessidades que foram criadas antes dele e baseia-se nas possibilidades que, uma vez mais, existam fora dele.  É por isso que observamos uma continuidade rigorosa no desenvolvimento histórico da tecnologia e da ciência.  Nenhuma invenção ou descoberta científica aparece antes de serem criadas as condições materiais e psicológicas necessárias para o seu surgimento.  A criatividade é um processo historicamente contínuo em que cada forma seguinte é determinada pelas precedentes.” Lev Vygotsky.

Com essa citação, podemos observar que todo grande cientista é influenciado pelo seu meio e pelo seu tempo. Pierce além de ter estudado diversos campos do saber, o que facilitou toda a sua produção científica, conviveu com grandes estudiosos da Harvard, já que seu pai lecionava ali. Em Kant e Hegel, Pierce encontrou similitudes e diferenças necessárias para o estabelecimento de sua teoria.
Esta análise está baseada em todas as leituras feitas até o momento. Como diria Bakhtin, o texto é polifônico e polissêmico, por esta razão, várias vozes estarão presentes, assim como, diferentes significados poderão ser produzidos. Esperamos conseguir utilizar alguns aspectos semióticos nesta avaliação.
O computador é um componente formado triadicamente, pois ele não teria utlilidade somente com uma das partes, mesmo que todas as partes existam em separado. Os termos em inglês utilizados para sua formação são os seguintes: hardware, software e liveware. Isto é, hardware, corresponderia ao equipamento em si, como o teclado, o mouse, o monitor e a CPU (Central Processing Unit), sua primeiridade com existência física. O segundo termo, software, representa os programas que dariam “vida” a  máquina preparando-a para sua utilização pelo terceiro grupo, o liveware, ou seja, as pessoas que manuseiam o computador como os usuários em geral, os programadores, os analistas, os engenheiros e cientistas da computação.
Fazendo uma análise em primeiridade da  palavra “computador”, verificamos que ela designa aquele que pode computar, ou seja, contar ou fazer cálculos matemáticos em um melhor tempo possível. Para esta finalidade ele fora criado primeiramente, isto é, fazer cálculos balísticos para a Segunda Guerra Mundial que terminou sem que ele estivesse ainda completado. Seu primeiro uso foi governamental, ou melhor, militar. Foi posteriormente utilizado também pelo mundo científico em suas pesquisas de cunho social. O governo americano acreditou que havia chegado o momento necessário para descentralizar as informações, as quais corriam o risco de serem descobertas pelo os inimigos durante a Guerra Fria e disseminadas facilmente. Novamente verificamos que o interesse era político, pois o governo tinha necessidade de salva-guardar sua nação de perigos eminentes. A comunicação passa do meio científico interna para uma utilização mundial através da internet, ou seja, uma grande rede de comunicação de alcance internacional e global. Consideramos este momento de secundidade na análise pierciana, pois promoveu a intercomunicação dos povos tanto em termos científicos como coloquiais através de chats. Mas já em terceiridade, podemos notar que esta rede fora criada com interesses políticos e econômicos e não somente para promover a comunicação, pois facilitou todas as transações de fluxos de informação, de capital em tempos considerados reais. A sociedade caminha em direção a uma nova sociedade fragmentada pela sociedade em rede, onde  o tempo é intemporal, pois passado e futuro convivem no presente mediado pelo computador.
Dentro dos computadores, todas as linguagens, ou seja, a visual, a sonora e a verbal, juntam-se e se confraternizam na criação de hipersignos híbridos, a hipermídia. Pierce ficaria maravilhado com tantas possibilidades de signos encontrados no mundo moderno, contudo, ele já tinha previsto uma possível combinação de signos que alcançaria uma estratosfera de mais de 50.000.
Podemos encontrar  diversos ícones no computador depois de iniciado, pois por semelhança eles se referem aos aplicativos aos quais os usuários necessitam usar. Eles não são o objeto em si, ou seja, os aplicativos, porém sua representação porque eles funcionam como teclas de atalho para abrir tais aplicativos ou programas.
Há também diversos índices, como por exemplo, sons provocados pelo computador para indicar que há algum problema com a máquina. A tela de proteção indica que o computador está temporariamente sem ser usado pelo usuário. As perguntas que ele faz ao usuário para ter certeza que ele sabe o que está fazendo também são índices de segurança desenvolvidos com a finalidade de salva-guardar o usuário de erros possíveis que ele está prestes a fazer.
Em termos simbólico, o computador carrega em si um lei genérica que indica (signo simbólico indicial) que há uma tecnologia a serviço do homem, ou seja, traz características da modernidade das comunicações. O símbolo carrega em si, índices que por sua vez trazem consigo ícones especiais. Assim, podemos observar que uma simples palavra como o substantivo “computador” carrega em si signos em diversos níveis e que poderão ser compreendidos ou percebidos diferentemente pelas pessoas, porque cada indivíduo poderá observar um aspecto de acordo com sua subjetividade ao estudar a semiótica.




5.     Análise Semiótica do Banco de Dados

 “At any moment we are in possession of certain information, that is, of cognitions which have been logically derived by induction and hypothesis from previous cognitions which are less general, less distinct, and of which we have a less lively consciousness. These in their turn have been derived from others still less general, less distinct, and less vivid; and so on back to the ideal first, which is quite singular, and quite out of consciousness. This ideal first is the particular thing-in-itself. It does not exist as such […]”, (On Some Consequences […]”, 1868, CP 5.311)


O videotexto – versão rudimentar das atuais redes telemáticas conectadas com os computadores pessoais cujo o modelo é a internet – nasceu da combinação de um banco de dados com o telefone e um terminal de vídeo. Enfim, o universo midiático nos fornece uma fartura de exemplos de hibridização de meios, códigos e sistemas sígnicos. Podemos observar a grande importância que os bancos de dados possuem, pois é a partir deles que todo o processo na rede se desenvolve. Em todo lugar as informações são armazenadas em forma de banco de dados, para posteriormente serem compartilhadas em toda a rede. Se as enciclopédicas organizaram o conhecimento humano por ordem alfabética, a mídia eletrônica fornece acesso à informação, expressão e percepção de acordo como os impulsos do consumidor ou decisões do produtor.  Assim, toda a ordenação dos eventos significativos perde seu ritmo cronológico interno e fica organizada em seqüências temporais condicionadas ao contexto social de sua utilização. Portanto, é simultaneamente uma cultura do eterno e do efêmero. É eterna porque alcança toda a seqüência passada e futura das expressões culturais. É efêmera porque cada organização, cada seqüência específica, depende do contexto e do objetivo da construção cultural solicitada.
Em termos computacionais, os dados se diferenciam de informações simplesmente pelo fato que quando se insere, por exemplo, palavras em um texto, elas são consideradas como dados (de entrada = input), após serem processadas, as mesmas palavras recebem a denominação de informações, ou seja, dados de saída ou output. Aqui teríamos um tratamento de primeiridade, quando as palavras se referem aos dados e de secundidade ao se referirem às informações.
Contudo temos que ir além destes sentidos para uma melhor compreensão. Uma data de nascimento (16/01/1969) qualquer é um dado em primeiridade, pois estamos considerando apenas a sua originalidade primeira, sua indeterminação, sua potencialidade. Já quando esta data de nascimento adquire valor para uma determinada pessoa, por exemplo para mim, pois é meu aniversário, ela se encontra em secundidade, pois eu estou em um processo de ação e reação com esta data real e determinada. Neste aqui e agora ela já não é simplesmente um dado e sim uma informação, pois adquiriu seu status de importância significativa. A informação para Noam Chomsky “é a medida do grau de incerteza de um sistema qualquer”, pois quanto mais informação menos incerteza se terá de algo. E quando esta informação é internalizada pelo indivíduo como significativa, ela encontrar-se-á em terceiridade, pois uma elaboração cognitiva fora realizada, ou seja, a informação é transformada em conhecimento.
As mídias televisivas, radiofônicas ou computacionais selecionam os dados que querem transmitir e assim estes dados selecionados adquirem valor e se transformam em informações. Nós somos bombardeados por todas estas mídias e suas informações diariamente nos afetam de uma forma ou outra. Como é humanamente impossível transformar estas informações em conhecimento, selecionamos as mais representantes para nós. Como podemos perceber que as informações foram transformadas em conhecimentos ? Simplesmente pelo fato que quando observamos que estamos utilizando e produzindo as informações com um determinado significado subjetivo, isto quer dizer, que já internalizamos as informações e estamos produzindo leis genéricas e transformando-as em conhecimento num processo sígnico de terceiridade, pois este conhecimento é contínuo por estarmos inseridos em uma gama inimaginável de signos.
Em Peirce, a inteligência humana é, antes de mais, uma inteligência científica. Esta inteligência é científica porque o conhecimento que produz é obtido ou, melhor, inferido a partir da experiência sensível. Afirmar, portanto, que o método para pensar com clareza e objectividade é o método científico quer precisamente dizer que o pensamento é um percurso de indagação, de inquérito, de investigação, numa palavra, de pesquisa. Logo, o conhecimento está constantemente sujeito a um processo de verificação e de correcção, numa aproximação gradual à verdade.
            A partir do exposto acima fica visível que a utilização de um banco de dados como fonte de pesquisa para acadêmicos é de suma importância, já que é o fundamento de todas a mídias presentes em nosso cotidiano. O banco de dados que sugirimos, vai além de um simples dicionário, visto que ele além de possuir traduções de palavras necessárias ao desenvolvimento cognitivo que estarão sempre contextualizadas, conterá também dados sobre o autor e suas respectivas obras.


6.     Considerações finais

“A todo momentos deparamos com significações sígnicas que estão imbricadas ou corporificadas e implicítas em nosso mundo, e tais significações receberão conotações diversas de acordo com seu ambiente social, cultural e histórico”. Augusto

A semiótica de Charles Sanders Pierce, nos permite observar que estamos trabalhando em três níveis sígnicos distintos, interconectados e infinitos. Ao analisarmos um texto, a primeiridade corresponderia ao nível sintático das relações das palavras, ou seja, sua estrutura, sua textualidade. Em secundidade, o nível semântico  representaria as significações, pois estaríamos agindo e reagindo com o texto em sua vasta gama polissêmica e polifônica, ou seja, os sentidos e as vozes presentes de outros discursos, isto é, de sua intertextualidade.  E finalmente, ou melhor, em terceiridade, a análise aconteceria a nível pragmático, pois o contexto social, cultural e histórico fundamentaria e completaria as significações textuais favorecendo assim sua infinitude ou continuidade destas mesmas significações. Como diria Bakhtin a obra é inacabada, pois uma nova leitura traria novas significações, e o processo aconteceria sempre desta forma ad infnitum.
Parece legítimo invocar a semiótica sempre que se procure explicar como é que se comunica, ou seja, explicar o uso social de significados previamente codificados. Porém, parece não só legítimo mas também pertinente invocar a semiótica sempre que se procure explicar como é que se significa, ou seja, como é que se constituem os significados em uma perspectiva de historicidade de uma dada sociedade.



Abstract

This study was done to give an overview of Charles Sanders Pierce’s theory, that is, to give a general introduction of this new science named Semiotics and show the different signs with its usages and meanings according to the three categories known as Firstness, Secnondness and Thirdness. It also intends to show the importance of a data base as a support of an academic research. It show the great varieties of signs produced and derived, and also its interpretation depending on the social and cultural points of view.


Key-words: semiotics, signs, data base.

 




RESUMEN

Este estudo fue hecho para dar una visión general a la teoría de Charles Sanders Pierce, o sea, dar una introducción general de esta nueva ciencia llamada Semiótica y demostrar los distintos signos con sus usos y significaciones de acuerdo con las tres categorias conocidas como Primeridad, Secundidad y Terceridad. También intenta demostrar la importancia de un banco de datos como un soporte en una investigación académica. También enseña las grandes variedades de los signos producidos y derivados, y también su interpretación de acuerdo con los puntos de vista sociales y culturales.


Palabras-clave: semiótica, signos, banco de datos.

 




RESUMO

Este estudo foi feito para dar uma visão geral da teoria de Charles Sanders Pierce, ou seja, dar uma introdução geral a esta ciência nomeada Semiótica e mostrar os diferentes signos com seus usos e significações de acordo com as três categorias conhecidas como Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. Também tenta mostrar a importância de um banco de dados como suporte em uma pesquisa acadêmica. Além de mostrar as grandes variedades de signos produzidos e derivados, e também sua interpretação de acordo como os pontos de vista sociais e culturais.



Palabras-chave: semiótica, signos, banco de dados.










Referências Bibliográficas


 

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       1999, pp. 23-34.


RANSDELL, J. Peircean semiotics. Manuscrito inédito; cópia cedida pelo autor,
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________. Matrizes da Linguagem e Pensamento: Sonora Visual Verbal.

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