CONTEXTO HISTÓRICO
O Barroco ou Seiscentismo denomina todas as
manifestações artísticas do século XVII e início do XVIII e, na literatura, é
reflexo nítido de uma época profundamente angustiada. Nesse período, a Reforma
de Lutero e Calvino dividiu os cristãos Europeus e, na tentativa de evitar a
perda de fiéis, a Igreja Católica criou instituições florescentes na Península
Ibérica, como o movimento da Contra-Reforma, que fundou a Companhia de Jesus e
fortalece a Inquisição. Assim, enquanto a Europa evoluiu cientificamente,
Portugal e Espanha permaneceram defensores da cultura medieval.
Além disso, de 1580 a 1640, Portugal, sob o jugo
espanhol, enfrentou uma situação insuportável, o que propiciou um ambiente de
pessimismo e desânimo, sobretudo, para a burguesia, que teve seu poder
restringido pela submissão aos espanhóis e ao poder da Igreja - Contra-Reforma.
A estética Barroca em Portugal resultou desse domínio, sofrendo, por
conseqüência, grande influência espanhola, principal foco irradiador dessa
estética.
Depois do domínio Espanhol, nos séculos XVII e
XVIII, a nação portuguesa decaiu no cenário Europeu e sua literatura girou em
torno de outras culturas: do barroquismo espanhol, do arcadismo italiano e do
iluminismo francês, afetando a iniciante literatura colonial brasileira que
passou a receber tendências estrangeiras.
A partir da segunda metade do século XVI, os ciclos
de ocupação e exploração intensa e regular das possibilidades econômicas do
Brasil-Colônia fizeram surgir núcleos urbanos de grande importância cultural e
econômica na Bahia e Pernambuco. Mais tarde, século XVII, com a mudança da sede
do governo para o Rio de Janeiro, esta firmou-se também como centro social,
político e cultural.
As invasões estrangeiras, do Rio de Janeiro ao
Maranhão, nos séculos XVI e XVII, foram responsáveis não só pelas
transformações ocorridas no Nordeste mas também pelo despertar de uma
consciência colonial, que se manifestou na literatura aqui realizada, através
do sentimento de amor e interesse pelas nossas coisas, fatos e realidades.
Ainda nesse século, essa região presenciou o auge e a decadência da
cana-de-açúcar. No século XVIII, outros centros surgiram. Além de São Paulo, Vila
Rica de Ouro Preto, em Minas Gerais, também desenvolveu-se econômica e
culturalmente, devido ao descobrimento das jazidas de ouro. Durante esses
séculos, o Brasil viveu sob forte pressão econômica, sobretudo pela intensa
exploração de suas riquezas naturais que mantiveram a Corte.
Famílias brasileiras e portuguesas aqui radicadas,
favorecidas por esse desenvolvimento, passaram a enviar seus filhos para os
cursos superiores em Portugal. Esses estudantes, formados pela Universidade de
Coimbra, foram os principais responsáveis pelas manifestações literárias
européias que aqui surgiram. Ao retornarem contribuíram para o nosso
desenvolvimento literário e reforçaram a mentalidade portuguesa entre nós.
CARACTERÍSTICAS
Sem encontrar explicações racionais para o mundo e
com o fortalecimento da igreja católica, o século XVII retomou a religiosidade
do período medieval e o antropocentrismo do século XVI, levando o pensamento
humano a oscilar entre dois pólos opostos: Deus e o homem; espírito e matéria;
céu e terra. Ao aproximar e relacionar idéias e sentimentos ou sensações
contraditórias entre si, o Barroco reflete esse desequilíbrio e tensão.
Essa estética recebe nomes diferentes em outros
países. Na Espanha, é Gongorismo, proveniente do poeta Luís Gôngora y Argote.
Na Itália, chama-se Marinismo, devido à influência de Gianbattista Marini. Na
Inglaterra, o romance Euphues ou The Anatomy of Wit, de John Lyly, dá origem ao
Eufuísmo. Na França, denomina-se Preciosismo, graças à forma rebuscada na corte
de Luís XIV. Na Alemanha, é conhecido por Silesianismo, caracterizando os
escritores da região da Silésia.
Nessa estética, integrante do Período Colonial e
sucessora do Quinhentismo, há um culto exagerado da forma. Na poesia, isso é
feito através de malabarismos sintáticos e abuso de figuras, tais como
metáforas, antíteses, paradoxos, metonímias, hipérboles, alegorias e
simbolismos, resultando em um rebuscamento exagerado, a que os poetas do
Arcadismo iriam se opor.
O barroco literário marca-se por dois estilos: o Cultismo
e o Conceitismo. Enquanto, no Cultismo, os termos contrários manifestam
sensações, no Conceitismo, eles são construídos e resolvidos através do
confronto de idéias e de conceitos mais abstratos.
Para o artista barroco, efêmero e contingente, que
deseja conciliar céu e terra, a duplicidade é a única atitude compatível, daí o
uso de temas opostos: amor e dor, o erótico e o místico, o refinado e o
grosseiro, o belo e o feio que se misturam, ressaltando o bizarro, e lembrando
que a morte é o denominador comum de todas as aspirações humanas.
Além das características portuguesas, o barroquismo
brasileiro apresenta peculiaridades próprias. A visão nativista na poesia, por
exemplo, pode ser considerada pitoresca pelo tipo de louvor que faz ao país. Na
lírica amorosa, a mulher é retratada pela sua beleza e perigo, sendo ao mesmo
tempo enaltecida e exorcizada.
As manifestações literárias barrocas do
Brasil-Colônia, de 1601 a 1768, têm como marco inicial a publicação do poema
épico Prosopopéia, de Bento Teixeira. Na poesia, destaca-se também Gregório de
Matos e, na prosa, sobressai-se a oratória sagrada dos jesuítas, cujo nome
central é o do Padre Antônio Vieira.
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