BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
Sedule curavi humanas actiones non ridere,
non lugere, neque detestare, sed intellegere.
Spinoza
“Tenho-me esforçado por não rir das ações humanas,
por não deplorá-las nem odiá-las, mas por entendê-las”.
Primeiras palavras
Enquanto a língua
é um rio caudaloso, longo e largo, que nunca se detém em seu curso, a gramática normativa é apenas um igapó,
uma grande poça de água parada, um charco, um brejo, um terreno alagadiço, à
margem da língua. (PL,2002:10)
A mitologia do preconceito lingüístico
Parece haver ... uma forte tendência a lutar contra
as mais variadas formas de preconceito, ..., e que são apenas o resultado da
ignorância, da intolerância ou da manipulação ideológica. Porém, essa tendência
não tem atingido o preconceito lingüístico. (PL,2002:13)
Mito no 1
A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente
Ora, a verdade é que no Brasil, embora a língua
falada pela grande maioria da população seja o português, esse português
apresenta um alto grau de diversidade
e de variabilidade, não só por causa
da grande extensão territorial do país – que gera as diferenças regionais,
bastante conhecidas e também vítimas, algumas delas, de muito preconceito –,
mas principalmente por causa da trágica injustiça social que faz do Brasil o
segundo país com a pior distribuição de renda em todo o mundo. São essas graves
diferenças de status social que explicam a existência, em nosso país, de um
verdadeiro abismo lingüístico entre os falantes das variedades não-padrão do
português brasileiro – que são a maioria de nossa população – e os falantes da
(suposta) variedade culta, em geral mal definida, que é a língua ensinada na
escola. (PL,2002:16)
Todos os brasileiros a que ela (Constituição) se
refere deveriam ter acesso mais amplo e democrático a essa espécie de língua
oficial que, restringindo seu caráter veicular a uma parte da população, exclui
necessariamente uma outra, talvez a maior. (PL,2002:17)
O fato de no Brasil o português ser a língua da
imensa maioria da população não implica, automaticamente, que esse português
seja um bloco compacto, coeso e homogêneo. (PL,2002:18)
Felizmente, essa realidade lingüística marcada pela diversidade já é reconhecida pelas
instituições oficiais encarregadas de planejar a educação no Brasil. Assim, nos
Parâmetros curriculares nacionais,
publicados pelo Ministério da Educação e do Desporto em 1998, podemos ler que
A variação é
constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre
existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação normativa. Assim,
quando se fala em “Língua Portuguesa” está se falando de uma unidade que se
constitui de muitas variedades. [..] a imagem de uma língua única, mais próxima
da modalidade escrita da linguagem, subjacente às prescrições normativas da
gramática escolar, dos manuais e mesmo dos programas de difusão da mídia sobre
“o que se deve e o que não se deve falar e escrever”, não se sustenta na
análise empírica dos usos da língua.
São, de fato, boas novas! Espero que elas desçam das
altas esferas governamentais e se propaguem pelas salas de aula de todo o país!
(PL,2002:19)
Mito no 2
Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português
O brasileiro sabe português, sim. O que acontece é
que nosso português é diferente do
português falado em Portugal. (PL,2002:24)
Na língua falada, as diferenças entre o português de
Portugal e o português do Brasil são tão grandes que muitas vezes surgem
dificuldades de compreensão: no vocabulário, nas construções sintáticas, no uso
de certas expressões, sem mencionar, é claro, as tremendas diferenças de
pronúncia – no português de Portugal existem vogais e consoantes que nossos
ouvidos brasileiros custam a reconhecer, porque não fazem parte de nosso
sistema fonético (PL,2002:24)
Por exemplo, os pronomes o/a, de construções como “eu o vi” e “eu a conheço”, estão
praticamente extintos no português falado no Brasil, ao passo que, no de
Portugal, continuam firmes e fortes. Esses pronomes nunca aparecem na fala das crianças brasileiras nem na dos
brasileiros não-alfabetizados e têm baixa ocorrência na fala dos indivíduos
cultos. (PL,2002:24/25)
A gramática escolar, no entanto, desconhece essa
transformação por que (pela qual) a língua está passando e insiste em
considerar “erradas” construções como “Eu conheço ele”, “Você viu ela chegar”
etc. (PL,2002:25)
Como não me canso de repetir, são simplesmente diferenças de uso – e diferença não é
deficiência nem inferioridade. (PL,2002:29)
Por causa desse preconceito é que somos obrigados a
ensinar e aprender que o “certo” é dizer e escrever Dê-me um beijo e não Me dá um
beijo, e que é “errado” dizer e escrever Assisti o filme e Aluga-se
casas, porque lá em Portugal não é assim que se faz. (PL,2002:29)
O mito de que “brasileiro não sabe português” também
afeta o ensino de línguas estrangeiras. É muito comum verificar entre os
professores de inglês, francês ou espanhol um grande desânimo diante das
dificuldades de ensinar o idioma estrangeiro. E é mais comum ainda ouvi-los
dizer: “Os alunos já não sabem português, imagine se vão conseguir aprender
outra língua”, fazendo a velha confusão entre língua e gramática normativa.
É muito fácil atribuir aos outros a culpa do nosso próprio fracasso. Assim, em
vez de buscar as causas da dificuldade de ensino na metodologia empregada, nas
diferenças de aptidão individual para o aprendizado de línguas ou na
competência do próprio professor, é muito mais cômodo jogar a culpa no aluno ou
na incompetência lingüística “inata” do brasileiro. (PL,2002:29/30)
Mito no 3
Português é
muito difícil
No dia em que nosso ensino de português se
concentrar no uso real, vivo e
verdadeiro da língua portuguesa do Brasil
é bem provável que ninguém mais continue a repetir essa bobagem. (PL,2002:35)
Todo falante nativo de uma língua sabe essa língua. Saber uma língua, no
sentido científico do verbo saber,
significa conhecer intuitivamente e empregar com naturalidade as regras básicas
de funcionamento dela. (PL,2002:35)
Por isso tantas pessoas terminam seus estudos,
depois de onze anos de ensino fundamental e médio, sentindo-se incompetentes
para redigir o que quer que seja. E não é à toa: se durante todos esses anos os
professores tivessem chamado a atenção dos alunos para o que é realmente
interessante e importante, se tivessem desenvolvido as habilidades de expressão
dos alunos, em vez de entupir suas aulas com regras ilógicas e nomenclaturas
incoerentes, as pessoas sentiriam muito mais confiança e prazer no momento de
usar os recursos de seu idioma, que afinal é um instrumento maravilhoso e que
pertence a todos! (PL,2002:38)
No fundo, a idéia de que “português é muito
difícil”serve como mais um dos instrumentos de manutenção do status quo das
classes sociais privilegiadas. Essa entidade mística e sobrenatural chamada
“português” só se revela aos poucos “iniciados”, aos que sabem as palavras
mágicas exatas para fazê-la manifestar-se. Tal como na Índia antiga, o conhecimento
da “gramática” é reservado a uma casta sacerdotal, encarregada de preservá-la
“pura” e “intacta”, longe do contato infeccioso dos párias. (PL,2002:39)
Mito no 4
As pessoas sem
instrução falam tudo errado
Na visão preconceituosa dos fenômenos da língua, a
transformação de L em R nos encontros consonantais como em Cráudia, chicrete,
praca, broco, pranta é tremendamente estigmatizada e às vezes é considerada até
como um sinal do “atraso mental” das pessoas que falam assim. Ora, estudando
cientificamente a questão, é fácil descobrir que não estamos diante de um traço
de “atraso mental” dos falantes “ignorantes” do português, mas simplesmente de
um fenômeno fonético que contribuiu para a formação da própria língua
portuguesa padrão. (PL,2002:40)
O que está em jogo aqui não é a língua , mas a pessoa que fala essa língua e a região geográfica onde essa pessoa vive.
(PL,2002:45)
Mito no 5
O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o
Maranhão
Os mesmos maranhenses que dizem tu és, tu vais, tu foste, tu quiseste, também dizem: Esse é um bom livro para ti ler. (PL,2002:47)
Toda variedade lingüística atende às necessidades da
comunidade de seres humanos que a empregam.
Quando deixar de atender, ela inevitavelmente sofrerá transformações
para se adequar às novas necessidades. Toda variedade lingüística é também o
resultado de um processo histórico próprio, com suas vicissitudes e peripécias
particulares. (PL,2002:48)
É preciso abandonar essa ânsia de tentar atribuir a
um único local ou a uma única comunidade de falantes o “melhor” ou o “pior”
português e passar a respeitar igualmente todas as variedades da língua, que
constituem um tesouro precioso de nossa cultura. Todas elas têm o seu valor,
são veículos plenos e perfeitos de comunicação e de relação entre as pessoas
que as falam. Se tivermos de incentivar o uso de uma norma culta, não podemos
fazê-lo de modo absoluto, fonte de preconceito. Temos de levar em consideração
a presença de regras variáveis em todas as variedades, a culta inclusive. (PL,2002:51)
Mito no 6
O certo é falar assim porque se
escreve assim
Seria mais justo e democrático dizer ao aluno que
ele pode dizer BUnito
ou BOnito,
mas que só pode escrever BONITO,
porque é necessária uma ortografia única para toda a língua, para que todos possam
ler e compreender o que está escrito, mas é preciso lembrar que ela funciona
como a partitura de uma música: cada instrumentista vai interpretá-la de um modo todo seu, particular! (PL,2002:53)
Quando o estudo da gramática surgiu, no entanto, na
Antigüidade clássica, seu objetivo declarado era investigar as regras da língua
escrita para poder preservar as
formas consideradas mais “corretas” e “elegantes” da língua literária. Aliás, a palavra gramática, em grego, significa
exatamente “a arte de escrever”. (PL,2002:56)
A gramática tradicional despreza totalmente os
fenômenos da língua oral, e quer impor a ferro e fogo a língua literária como a
única forma legítima de falar e escrever, como a única manifestação que merece
ser estudada. (PL,2002:57)
Mito no 7
É preciso
saber gramática para falar e escrever bem
O que aconteceu, ao longo do tempo, foi uma inversão da realidade histórica. As
gramáticas foram escritas precisamente para descrever e fixar como “regras” e
“padrões” as manifestações lingüísticas usadas espontaneamente pelos escritores
considerados dignos de admiração, modelos a ser imitados. Ou seja, a gramática normativa é decorrência da
língua, é subordinada a ela, dependente dela. Como a gramática, porém,
passou a ser instrumento de poder e de
controle, surgiu essa concepção de que os falantes e escritores da língua é
que precisam da gramática, como se ela fosse uma espécie de fonte mística
invisível da qual emana a língua “bonita”, “correta” e “pura”. A língua passou
a ser subordinada e dependente da gramática. (PL,2002:64)
Mito no 8
“O domínio da
norma culta é um instrumento de ascensão social”
Ora, se o domínio da norma culta fosse realmente um
instrumento de ascensão na sociedade, os professores de português ocupariam o
topo da pirâmide social, econômica e política do país, não é mesmo ? (PL,2002:69)
É preciso garantir, sim, a todos os brasileiros o
reconhecimento (sem o tradicional julgamento de valor) da variação lingüística,
porque o mero domínio da norma culta não
é uma fórmula mágica que, de um momento
para outro, vai resolver todos os problemas de um indivíduo carente. É preciso
favorecer esse reconhecimento, mas também garantir o acesso à educação em seu
sentido mais amplo, aos bens culturais, à saúde e à habitação, ao transporte de
boa qualidade, à vida digna de cidadão merecedor de todo respeito. (PL,2002:71)
O que está em jogo é a transformação da sociedade como
um todo, pois enquanto vivermos numa estrutura social cuja existência mesma
exige desigualdades sociais profundas,
toda tentativa de promover a “ascensão” social dos marginalizados é, senão
hipócrita e cínica, pelo menos de uma boa intenção paternalista e ingênua. (PL,2002:71)
Como eu já tinha avisado na abertura do livro, falar
da língua é falar de política, e em nenhum momento esta reflexão pode estar
ausente de nossas posturas teóricas e de nossas atitudes práticas de cidadão,
de professor e de cientista. Do contrário, estaremos apenas contribuindo para a
manutenção do círculo vicioso do preconceito lingüístico e do irmão gêmeo dele,
o círculo vicioso da injustiça social.
(PL,2002:72)
II O círculo vicioso do preconceito lingüístico
É necessário um trabalho lento, contínuo e profundo
de conscientização para que se comece a desmascarar os mecanismos perversos que
compõem a mitologia do preconceito. (PL,2002:75)
Mas não é porque somos “caipiras, jecas-tatus,
matutos ou tabaréus”. É porque a língua muda com o tempo, segue seu curso,
transforma-se. Afinal, se não fosse desse modo, ainda estaríamos falando
latim... (PL,2002:98)
III A desconstrução do preconceito lingüístico
Da parte do professor em geral, e do professor de
língua em particular, essa mudança de atitude deve refletir-se na não-aceitação
de dogmas, na adoção de uma nova postura (crítica) em relação a seu próprio objeto
de trabalho: a norma culta. (PL,2002:115)
Em vez de REproduzir a tradição gramatical , o
professor deve PRODUZIR seu próprio conheciemnto da gramática, transformando-se num
pesquisador em tempo integral, num orientador de pesquisas a serem empreendidas
e sala de aula, junto com seus alunos. (PL,2002:117)
“..., do ponto de vista científico, simplesmente não
existe erro de português. Todo falante nativo de uma língua é um falante
plenamente competente dessa língua, capaz de discernir intuitivamente a gramaticalidade ou agramaticalidade de um enunciado, isto é, se um enunciado obedece
ou não às regras de funcionamento da língua”. (PL,2002:124)
Ninguém comete erros ao falar sua própria língua
materna, assim como ninguém comete erros ao andar ou ao respirar. (PL,2002:124)
A língua materna
não é um saber desse tipo: ela é adquirida
pela criança desde o útero, é absorvida junto com o leite materno. Por isso qualquer criança entre os 3 e 4 anos de idade já
domina plenamente a gramática de sua língua. (PL,2002:124)
Em relação à língua escrita, seria pedagogicamente
proveitoso substituir a noção de erro
pela tentativa de acerto. Afinal, a
língua escrita é uma tentativa de analisar
a língua falada, e essa análise será feita, pelo usuário da escrita no momento
de grafar sua mensagem, de acordo com
seu perfil sociolingüístico. Uma pessoa como poucos anos de
escolarização, pouco habituada à prática da leitura e da escrita, tendo como
quadro de referência apenas uma suposta equivalência unívoca entre som e letra,
fará uma análise dotada de reduzido instrumental teórico, empregando como
ferramenta básica a analogia. (PL,2002:126)
Essa Gramática
filia-se à tradição que atribui ao domínio da escrita um elemento de distinção social, que é na verdade um
elemento de dominação por parte dos
letrados sobre os iletrados. (PL,2002:133)
Existe um mito ingênuo de que a linguagem humana tem
a finalidade de “comunicar”, de “transmitir idéias” – mito que as modernas
correntes da lingüística vêm tratando de demolir, provando que a linguagem é
muitas vezes um poderoso instrumento de ocultação
da verdade, de manipulação do outro,
de controle, de intimidação, de opressão,
de emudecimento. (PL,2002:133)
O aprendizado da ortografia se faz pelo contato
íntimo e freqüente com textos bem escritos, e não com regras mal elaboradas ou
com exercícios pouco esclarecedores. (PL,2002:138)
DEZ CISÕES
1.
Conscientizar-se de que todo falante nativo de uma
língua é um usuário competente dessa língua, por isso ele SABE essa língua.
Entre os 3 e 4 anos de idade, uma criança já domina integralmente a ramática de
sua língua. Sendo asssim,
2.
aceitar a idéia de que não existe erro de português. Existem diferenças de uso ou alternativas
de uso em relação à regra única proposta pela gramática normativa.
3.
Não confundir erro de português com simples erro de ortografia. A ortografia é artificial,
ao contrário da língua, que é natural. A ortografia é uma decisão política, é
imposta por decreto, por isso ela pode mudar, e muda, de uma época para outra.
Em 1899 as pessoas estudavam psychologia
e história do Egypto; em 1999 elas
estudam psicologia e história do Egito. Línguas que não têm escrita nem
por isso deixam de ter sua gramática.
4.
Reconhecer que tudo o que a Gramática Tradicional
chama de erro é na verdade um fenômeno que tem uma explicação
científica perfeitamente demonstrável. Se milhões de pessoas (cultas inclusive)
estão optando por um uso que difere da regra prescrita nas gramáticas
normativas é porque há alguma regra nova sobrepondo-se à antiga. Assim, o
problema está com a regra tradicional, e não com as pessoas, que são falantes
nativos e perfeitamente competentes de sua língua. Nada é por acaso.
5.
Conscientizar-se de que toda língua muda e varia. O que hoje é visto como “certo” já foi
“erro” no passado. O que hoje é considerado “erro” pode vir a ser perfeitamente
aceito como “certo” no futuro da língua. Um exemplo: no português medieval
existia um verbo leixar (que aparece
até na Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel I). Com o tempo, esse
verbo foi sendo pronunciado deixar,
porque [d] e [l] são consoantes aparentadas, o que permitiu a troca de uma pela
outra. Hoje quem pronunciar leixar
vai estar cometendo um “erro”( vai ser acusado de desleixo), muito embora essa forma seja mais próxima da origem
latina, laxare (compare-se, por
exemplo, o francês laisser e o
italiano lasciare). Por isso é bom
evitar classificar algum fenômeno gramatical de “erro”: ele pode ser, na
verdade, um indício do que será a língua no futuro.
6.
Dar-se conta de que a língua portuguesa não vai nem
bem, nem mal. Ela simplesmente VAI, isto é, segue seu rumo, prossegue em sua
evolução, em sua transformação, que não pode ser detida ( a não ser com a
eliminação física de todos os seus falantes).
7.
Respeitar a variedade lingüística de toda e qualquer
pessoa, pois isso equivale a respeitar a integridade física e espiritual dessa
pessoa como ser humano, porque
8.
a língua permeia tudo, ela nos constitui enquanto
seres humanos. Nós somos a língua que
falamos. A língua que falamos molda nosso modo de ver o mundo e nosso modo de
ver o mundo molda a língua que falamos. Para os falantes de português, por
exemplo, a diferença entre ser e estar é fundamental: eu estou infeliz é radicalmente
diferente, para nós, de eu sou infeliz.
Ora, línguas como o inglês, o francês e o alemão têm um único verbo para
exprimir as duas coisas. Outras, como o russo, não têm verbo nenhum, dizendo
algo assim como: Eu – infeliz ( o russo, na escrita, usa mesmo um travessão
onde nós inserimos um verbo de ligação). Assim,
9.
uma vez que a língua está em tudo e tudo está na
língua, o professor de português é professor de TUDO. (Alguém já me disse que
talvez por isso o professor de português devesse receber um salário igual à
soma dos salários de todos os outros professores!)
10. Ensinar bem
é ensinar para o bem. Ensinar para o bem significa respeitar o conhecimento
intuitivo do aluno, valorizar o que ele já sabe do mundo, da vida, reconhecer
na língua que ele fala a sua própria identidade como ser humano. Ensinar para o
bem é acrescentar e não suprimir, é elevar e não rebaixar a auto-estima do
indivíduo. Somente assim, no início de cada ano letivo este indivíduo poderá
comemorar a volta às aulas, em vez de
lamentar a volta às jaulas! (PL,2002:145)
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